SUBCONSCIENTE E MEDIUNIDADE
3. Como distinguir se o espírito que responde é o do médium ou um espírito estranho? — Pela natureza das comunicações. Estudem as circunstâncias e a linguagem, e vocês distinguirão. E sobretudo no estado de sonambulismo ou de êxtase que o espírito do médium se manifesta, porque então está mais livre; mas no estado normal é mais difícil. Aliás, há respostas que é impossível atribuir-lhe: eis por que eu lhes digo: estudar e observar. (Cap. XIX – Papel do médium nas comunicações espíritas) O subconsciente exerce um papel preponderante na mediunidade – ele, por assim dizer, é o arquivo de consulta do espírito comunicante nas manifestações intelectuais.
Quando o espírito esbarra na incapacidade intelectual do medianeiro, que nada ou pouco lhe oferece em termos de subsídios, ele se depara com obstáculo intransponível. Os comunicados truncados ou que careçam de desenvolvimento lógico têm no subconsciente do médium a sua causa. Pedimos vénia para ilustrar esta abordagem com a experiência vivenciada pelo médium Chico Xavier, quando trabalhava na recepção da obra “Nosso Lar”. Em determinado trecho da narrativa, temendo estar mistificado por um espírito, em suas descrições da cidade espiritual, o médium paralisou as suas atividades de recepção. Foi necessário que o autor desencarnado da referida obra providenciasse, em estado de desdobramento lúcido, a visita de Chico a “Nosso Lar”. A personalidade mediúnica, dotada de discernimento, com o intuito de preservar o próprio equilíbrio, costuma repelir qualquer informação que atente contra o bom senso do “já conhecido” ou que se traduza por perigosa novidade ante o “já sabido”.
Dentro do contexto acima é que se encontra a dificuldade de certos medianeiros na recepção de datas, nomes, apelidos e outros detalhes de identificação por parte da entidade manifestante. Até certo ponto, André Luiz, na escrita mediúnica de “Nosso Lar”, contou com a docilidade do instrumento de que se valia; porém, ao fazer inédita abordagem para o psiquismo do médium, experimentou imediata rejeição… Poderia o autor espiritual de a obra citada ter continuado, à revelia do médium? – eis a pergunta que, naturalmente, se impõe. Respondemos que sim, porém não sem constrangimento à vontade do intermediário encarnado, o que caracterizaria obsessão. Ou, então, com a sua anuência irresponsável, que significaria leviandade. Vejamos que, de fato, espírito e médium são chamados a trabalhar em regime de parceria consciente, um suprindo as possíveis limitações do outro. Já tivemos oportunidade de dizer alhures que se o espírito deve se preparar para o médium, o médium, pela mesma razão, necessita de se preparar para o espírito. À época das mesas girantes, o trabalho do intercâmbio, quase todo ele, corria por conta dos Espíritos. Daí, a grande dificuldade material que precisava ser vencida e o imenso dispêndio de energia, tanto da parte do médium quanto do espírito. Quanto maior volume de informações o médium armazenar em seu subconsciente, maior facilidade a entidade comunicante encontrará para se expressar. Geralmente, o espírito que se manifesta, seja ele qual for, entra com a ideia e a emoção, relegando ao medianeiro a tarefa de revesti-los com palavras. Por esse motivo, o vocabulário em que uma comunicação é verbalizada, seja por meio da escrita ou da palavra oral, pertence mais ao médium que ao espírito. O escrúpulo do médium, por temer estar mistificando ou algo que o valha, somente se justifica quando ele próprio não se encontra seguro de qual é a sua verdadeira intenção no exercício da mediunidade.
Deixe um comentário