O MÉDIUM COMO INTÉRPRETE
6. O espírito que se comunica por um médium transmite diretamente seu pensamento, ou então este pensamento tem por intermediário o espírito encarnado do médium? — E o espírito do médium que é o intérprete, porque ele está ligado ao corpo que serve para falar e porque é preciso uma ligação entre vocês e os espíritos estranhos que se comunicam, como é preciso um fio elétrico para transmitir uma notícia ao longe e na ponta do fio uma pessoa inteligente que a receba e transmita.
Os Espíritos Superiores definiram sem rodeios: “É o espírito do médium que é o intérprete”! Isto significa dizer que, em todo comunicado, notadamente nos de natureza intelectual, a participação do medianeiro é inevitável.
Em nenhum comunicado do Mais Além, o médium é mera figura decorativa. A sua influência intelecto-moral é decisiva. Assim sendo, que o médium não supervalorize a questão do animismo e tampouco se deixe afetar pela opinião dos que teorizam em demasia a respeito. Cabe ao médium filtrar o comunicado, ou seja: adequar o pensamento do espírito às palavras que o traduzam sem distorções comprometedoras. O médium não é um objeto inanimado. Sendo assim, é natural que haja interferências de sua parte na recepção da mensagem transmitida – interferências, inclusive, que hão de depender de seu estado de espírito quando do momento do transe. Comparemos o pensamento do espírito comunicante a uma substância líquida – água, por exemplo -, que se amolda ao vasilhame sobre o qual se derrama. Não importa se a água é servida ao sedento numa caneca de alumínio ou num copo de vidro – ela não pode é deixar de ser água, perdendo as suas propriedades.
Se, por exemplo, a água se transformar em vinagre, deixará de cumprir com a função de dessedentar. O médium é o recipiente sobre o qual o pensamento do espirito se amoldará, copiando-lhe as mais discretas reentrâncias. Podemos dizer que, apenas em condições de excepcionalidade, o pensamento do espírito chega aos ouvidos humanos sem esta ou aquela distorção. Por esse motivo, Jesus Cristo dispensou medianeiros para a sua Palavra, preferindo vir Ele mesmo para pronunciá-las e vivenciá-las! Aliás, para o Pensamento de Jesus, não haveria, como não há, médium humano à altura. Consideremos, ainda, que há interferências negativas e positivas. Médiuns que auxiliam e médiuns que prejudicam. Médiuns que suprem deficiências e médiuns que deturpam. Como, pois, não interferir é quase impossível, o melhor instrumento mediúnico é aquele que interfere positivamente. É o que se torna coadjuvante do espírito, concorrendo, de maneira ativa, para o bom êxito do intercâmbio.
Por mais profundo seja o transe, a participação do médium, como instrumento inteligente, nunca é absolutamente nula. Concluimos, então, sem dificuldade, que o médium necessita estudar, oferecendo ao espírito a maleabilidade intelectual que lhe seja possível. Convém esclarecer que os espíritos comunicantes, por vezes, principalmente quando mais elevados, dão preferência a um médium com certa deficiência intelectual, mas que, moralmente, corresponda às expectativas. É que o prejuízo intelectual, neste ou naquele comunicado, é mais fácil de reparar do que o prejuízo de ordem moral. O prejuízo intelectual pode ser reparado com palavras, recorrendo ao dicionário ou até mesmo aos préstimos de um bom revisor, ao passo que o prejuízo moral pode comprometer toda a essência do comunicado. Mais que o seu grau de cultura geral e conhecimento teórico da Doutrina, os espíritos sérios procuram auscultar a intenção do médium.
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