O MÉDIUM COMO OBSTÁCULO
17.
A aptidão de alguns médiuns para escrever numa língua que lhes é estranha não proviria de que esta língua lhes teria sido familiar numa outra existência e da qual teriam conservado a intuição? — Isto pode certamente acontecer, mãs não é a regra; o espírito pode, com alguns esforços, vencer momentaneamente a resistência material que encontra; é o que acontece quando o médium escreve, em sua própria língua, palavras que não conhece. (Cap. XIX – Papel do médium nas comunicações espíritas)
No capítulo XIX de “O Livro dos Médiuns”, que presentemente estudamos, os Espíritos se referem, diversas vezes, ao médium como obstáculo ao intercâmbio entre as duas dimensões.
Curioso, porque, justamente o instrumento que deveria facilitar tal contato – o médium -, de repente, se transforma em empecilho quase intransponível. E vale ressaltar que os Espíritos, no capítulo em análise, não estão se referindo ao médium como obstáculo moral, e, sim, material. Em que circunstâncias, pois, os médiuns seriam “dificuldade mecânica” à livre manifestação dos espíritos por seu intermédio? Imaginemos um professor ditando palavras a um aluno que ainda não aprendeu a escrevê-las perfeitamente. Mesmo que o professor se disponha a lhe guiar a mão na escrita, a dificuldade, por exemplo, para se redigir um texto mais ou menos longo será enorme. Consideremos ainda alguém tentando falar num idioma estrangeiro a uma pessoa que mal se expressa em Português. No máximo, inclusive recorrendo ao auxílio da mímica, conseguirá apenas rudimentos de entendimento.
Por que os Espíritos abandonaram a cestinha de vime, por meio da qual escreviam sem tantas interferências intelectuais do medianeiro, permutando-a pela psicografia? Embora soubessem que a escrita psicográfica lhes criaria outra espécie de embaraço, os Espíritos a preferiram às mesas que giravam e às cestas de vime, porque a logística do contato era demasiadamente morosa e estafante. O embaraço material a ser superado pelo espírito comunicante está diretamente relacionado a causas de natureza intelectual e biológica. Senão, vejamos. Por que os médiuns psicofônicos, através dos quais os espíritos trabalham com a palavra articulada, são mais numerosos que os psicógrafos? A resposta é óbvia. É que o domínio da escrita pelo cérebro humano é muito mais recente do que a faculdade de verbalizar a palavra. Os órgãos da fonação estão mais adestrados que os reflexos motores que possibilitam ao homem escrever o que pensa. É mais fácil falar do que escrever!
Atentemo-nos para quanto os médiuns carecem de se preparar, a fim de que se façam instrumentos mais ou menos maleáveis para os espíritos que lhes buscam o concurso. Além da necessidade de se evangelizarem, para que não se tornem obstáculos de ordem moral, carecem de adestramento intelectual e, por que não dizer físico? O espírito que procura um médium para a concepção de telas mediúnicas espera que, no mínimo, ele saiba manejar a paleta e fazer a diferenciação das cores. Outro que, porventura, deseja se expressar no idioma do Codificador, objetivando fins particulares que, agora, não nos cabe apreciar, permanece na expectativa de que o médium, pelo menos, o favoreça com conhecimento básico do Francês. Não apenas o moral e o intelecto constituem impedimentos para os espíritos que desejam contatar os encarnados – mas o corpo também!
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